Cemitérios Ribeirinhos
Para os Himba, uma sepultura não é apenas o local onde se encontram os restos mortais de uma pessoa falecida – é um ponto crucial para definir a identidade, relações sociais e relações com a terra, além de ser também um centro para rituais religiosos importantes. A preferência por localizações ribeirinhas é em parte de natureza prática – os solos de aluvião são normalmente mais fundos e fáceis de escavar. Mas as zonas ribeirinhas também estão extremamente carregadas de emoção, como pontos de congregação de comunidades, pontos de partida das migrações anuais de gado, locais onde as pessoas lutaram para sobreviver a secas, e locais de sepultura de outros membros da família [...].
Dado que as sepulturas demonstram a continuidade de povoamento, elas determinam a influência do “proprietário” da terra. O “proprietário” de uma determinada área é normalmente o homem mais velho de uma família que tenha estado presente nesse local há gerações. Normalmente, ele não tem o direito de excluir totalmente os outros, mas detém habitualmente o poder para evitar que estranhos sujeitem os escassos recursos a um fardo excessivo, e terá uma palavra importante a dizer nas decisões tomadas colectivamente pela comunidade. O “proprietário” da terra baseará a sua reivindicação a poder político nas numerosas sepulturas de gerações de antepassados na área. Uma família com apenas duas ou três gerações de túmulos num determinado local será considerada como “estranhos” que têm permissão de utilizar as terras mas não têm direito a alterar padrões de posse de terra ou a representar os interesses da área aos que estão fora dela. Aqueles que podem comprovar a relação mais antiga com a terra terão a palavra de maior peso no que respeita a assuntos importantes relacionados com a terra, tais como os direitos de acesso e o controlo de recursos. Dado que as sepulturas são tão importantes no sistema de posse da terra, os anciões são capazes de se lembrar da localização e até de identificar as sepulturas mais antigas.
Por exemplo, nos debates acerca de assuntos como a nomeação de um chefe, a permissão de entrada de um comerciante na área ou uma tomada de posição sobre um desenvolvimento […], os Himba apontarão para o número de sepulturas como o indicador principal dos seus direitos de influenciar uma decisão. Perguntarão retoricamente, “De quem são as sepulturas ancestrais mais antigas, nossas ou deles?” O ponto crucial não é o factor físico das sepulturas em si, mas a relação entre as sepulturas, a história da família e o sistema de posse de terra e de poder de decisão da comunidade […]. Ao ficarem a saber que a barragem de Epupa irá inundar um grande número de túmulos, muitos Himba perguntaram, “Quem irá saber então a quem pertence a terra?”
Fonte: International Rivers website 2010